segunda-feira, 14 de abril de 2014

De Gustavo Lacombe


Existem coisas muito mais gostosas de se ouvir do que um insosso “eu te amo” dito de forma automática. E ela me prova isso com certas falas, mesmo sendo mais fã de gestos do que de palavras.
Vira e mexe me manda uma música e diz “ouve aí”. Sabe o que é você pegar uma letra inteira e imaginar todas as situações vividas e as que você quer viver ao lado de alguém? Ouço uma, duas, três vezes até começar a assobiar a música sem pensar. Até pedir licença ao cantor, ao compositor e aos músicos da canção e dizer: essa agora é nossa.
Ela não gasta meus apelidos. Aliás, até brigo um pouco com ela e faço cena querendo que ela diminua meu nome e invente um jeito só dela de me chamar. Engraçado que, nessa coisa de todo mundo adaptar ou procurar uma forma de se dirigir a mim, é ouvindo meu nome inteiro sair da sua boca que eu sinto o carinho por parte dela.
Ah, e quando ela – enfim – solta um apelido, chego a ficar mudo. Com os olhos sorrindo e o coração babando.
Por vezes ela fica monossilábica. Eu desando a falar, faço monólogos e ela só responde com um “verdade”, “hm”, “ok”. E não é por estar chateada (e também não é que não passe um filme na minha cabeça pensando se fiz algo errado), mas é porque a rotina dela é exaustiva. É ônibus, metrô, trabalho, compras, academia… Se vira pra caber dentro de vinte e quatro horas o que eu não conseguiria em quarenta e oito.
O que sei é que ela se apoia em poucas palavras para resumir vontades enormes. É um “vem”, um “cadê?”, um “me abraça”. Cada qual no seu contexto. Cada qual de um jeito gostoso que as palavras tem de sair daquela boca que não diz um “eu te amo” à tôa.
Ela é daquelas que não fala do que sente.
Vive.
(Gustavo Lacombe)

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